a arte que encanta !
E as palavras, onde estão para definir Neymar? Na estreia do Brasil no Sul-Americano Sub-20, contra o Paraguai, pareciam querer linchá-lo. Eram predadores atrás de um pedaço do talento.
Os rivais acertam-no nos tornozelos, trombam, caçam-no desesperados. Neymar finge que não é com ele. Já não revida toda agressão, embora, no lance seguinte, parta pra cima do adversário.
Neymar tem tudo o que se espera de um atacante: chute, posicionamento, velocidade e força suficiente para não cair a cada choque, exceto se quiser - e ele gosta. Tem também cintura para driblar os marcadores, como Ronaldinho antes de preferir usá-la mais para dançar.
Contra o Paraguai, fez quatro verdadeiros gols: de pênalti, em jogada individual driblando os marcadores, de cabeça após dividir com o goleiro e o último de cobertura, com o pé esquerdo, embora seja destro.
Neymar tem 19 anos- . Nesta idade, a maioria estuda e joga bola pelas ruas ou em quadras. Os jogadores vão à Copa São Paulo ou sobem do juvenil para o júnior. Ele distribui autógrafos pelo que faz.
Aliás, Neymar existe desde antes da estreia, quando o comentário era sobre o novo Robinho, a promessa que foi liberada pra treinar uns dias no Real Madrid aos 15 anos.
Por mais que se tenha falado e exagerado sobre seu futuro, Neymar vai justificando cada adjetivo, por mais louco ou fora de contexto que este tenha sido dito. As apostas, as previsões e os sonhos a cada dia parecem ser mais reais. Nascem aos pés do menino.
Neymar chega em época em que se critica demais o futebol apresentado pelo Brasil e no Brasil. Em quatro anos com Dunga, vencemos tudo, exceto o que importava: Copa e Olimpíada. Contudo, perdemos parte do encanto. Somos cada dia mais europeus, enquanto os europeus querem ficar mais parecidos com a gente.
Neymar nos relembra os sonhos da infância. No Santos, com Ganso, outro craque (e talvez um craque em posição ainda mais difícil), pode aquecer o coração brasileiro nos anos que antecedem a Copa. Ganso é armador, é meia e é meia-atacante. Arma, organiza, conduz e define.
Neymar é craque e humano. Assim como anima quem adora um futebol técnico e mais criativo, o jogador irrita quem prefere padrões, ritmos, regras e, até certo ponto, um jogo mais coletivo, como também exige o futebol. Já o homem é um menino cheio de responsabilidades, falhas e defeitos, como todos.
O limite do seu sucesso dependerá muito do apetite. Messi, eleito duas vezes seguida o melhor do mundo, diz sentir a mesma alegria em campo de quando era criança. O futebol segue sendo uma diversão. Estará no sorriso de Neymar a resposta se será, no campo, o novo Messi.